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sábado, maio 29, 2010

No silêncio de um poema.

Nas horas iguais, numa madrugada qualquer
Ao redor de uma lâmpada fundida
Os vidros esbatidos, desunidos
Inofensivos, parecendo derreter

Lembro-me da luz vinda dessa lâmpada
Todos os dias numa simples magia
Coloria numa cor alaranjada
Aquela omissão de ruído que só eu queria

Num dia igual, numa hora qualquer
A luz parecia triste, não era a mesma
As sombras no quarto nem se viam sequer
O quarto perdera algo do seu carisma

A janela meiga recebia o Co2 do silêncio
Para cá da vidraça só havia baço
Naquele instante era o único sitio
Para poder deitar todo o cansaço

Na manhã de uma data qualquer
Acordei desamparado no mistério das horas
A lâmpada estivera acesa e estafada
Nessa noite fria, até me fez aquecer
Mas a inconsciência de uma imagem sonhada
Fez com que o silêncio se tornasse algemas.

Procurei nos amarrotados cobertores
A razão de todo aquele silêncio
A resposta não queria favores
Quando dei por mim era a luz do dia
Que iluminava o quarto, e a lâmpada morta
Nada havia a fazer senão pensar a frio….
Fora um pesadelo numa vida abstracta!

A lâmpada “morreu” enquanto o pesadelo crescera?
O calor que senti, não foi da luz
O silêncio que ouvia não era no quarto…
Ou a lâmpada fundira-se no crescer desse poema?

quarta-feira, maio 26, 2010

Mente airosa e verdadeira

Não como uma estátua, mas de pé como homem,
Imóvel, não fujo da água que cai sobre mim
Como se esta chuva viesse de uma fonte
Como se essa fonte fosse a minha inspiração

Há noites que parecem não pertencer aos dias
Não é o sol que as separa, não é a lua que as une
É uma estranha inexistência, como uma cidade sem ruas
De uma vida escondida nos becos que a mente tem

Mente airosa e verdadeira
Essa coisa minha que é forte
Não é um amor, vai ser sempre uma paixão

Airosa e verdadeira, a minha mente
É maior que uma noite inteira
É maior, muito maior que a imensidão

terça-feira, maio 25, 2010

Quando olho para cima... vejo o chão.

Se o gerúndio inexistisse, eu não vivia...
O passado é mar, é o barco do tempo!
O presente só lembra a surpresa do momento;
O Futuro são outras verdades de um só dia,

Ter que sorrir com vontade de rir;
Ter que pensar com vontade de sentir;
Ter que ficar com vontade de ir;
Ter que viver com vontade de sonhar.

Inclina-se o sol, e a lua descobre as estrelas...
O refúgio de um sossego inventado.
Horas que me vestem de tempo e de sequelas,
Paz soterrada nos confins do indesejado.

A imaginação, dissimulada, alimenta-se da tristeza;
Estar alegre distancia-me da inspiração.
Na desconcentração, a consciência torna-se uma presa,
E a realidade faz da vida uma ficção.

Tenho-me do avesso, não me vejo,
E se me invejo, sinto emoção.
Este ar frio que não sai do peito,
Nesse espaço que há entre mim e o chão.

sexta-feira, maio 21, 2010

O vão da natureza.

Procuro no vazio o meu espaço.
O tempo numa Natureza incolor,
Desvenda o verde no meu rosto escasso;
Os olhos de um desejo, de um amor.

Respiro o ar que me toca, o ar que eu não vejo,
Enquanto o chão leva-me na gravidade do meu mundo,
Ouço a tua distância na ânsia de um beijo...
Ali fico, sentado, cabisbaixo, suspirando bem fundo.

Vão eles no vão da Natureza,
Fico eu aqui, nesta rua longe de mim,
Onde as casas parecem árvores; os frutos as janelas...
Confesso ao silêncio com subtileza:
-Ó silêncio, por ela o meu amor jamais terá um fim!

Invado, num espaço, o meu vazio...
Naquela água do mar, vejo o azul escuro do céu,
Imaginando-te de perto, ao ver-te os olhos, olho-te a alma,
És o cobertor nesta noite de frio
O espaço ocupado que não é meu,,
Sem ti, sou uma mão sem palma.

O tempo quando escurece, não é o tempo da vida,
São tempos diferentes, juntos no mesmo momento,
Que chamam por mim, na voz do vento,
Nos versos soprados pela saudade caída.

terça-feira, maio 18, 2010

As figuras que a linguagem faz.


Não é do som que a linguagem vive,
É da necessidade de sair do silêncio,
Onde tantos sentimentos juntos, significam solidão,
Onde no corpo colado à pele, ainda bate o coração.


Na timidez do dia, vislumbram-se beijos,
Sem que o sol os veja, sem que a lua os oiça,
Há lábios que se colam a desejos,
De uma linguagem, sem ser uma crença .


Figuras que as palavras fazem,
São diferentes daquelas, as faciais,
No pleonasmo das rimas, os outros lêem,
Sentidos trocados como sinestesias.


Morre a vida como a noite mata o dia,
Hipérboles que pedem por eufemismos,
Na estranha sombra, numa noite fria,
Há metáforas que me lembram sonhos.


As figuras que a linguagem faz,
Encontram-me a sós com as letras,
Peço a elas sinónimos de paz,
E delas recebo asas.

domingo, maio 16, 2010

Nada!



Aproveito o interregno que ilumina o tédio de se ser cidadão, para querer falar sobre nada! Não é fácil reflectir sobre nada, é um tema deveras complexo. Consegue ser simultâneamente dúbio e objectivo,ora então não fosse...O termo "nada" por si não tem qualquer significância existencial, apenas mental, entretanto por vezes se pode confundir com "vácuo" ou "vazio". No entanto, neste últimos dois termos referidos, existe algo: - no "vácuo" existem campos magnéticos, eléctricos, luz, ondas, campos gravitacionais...enquanto que no " vazio" existe, como é lógico um espaço por ocupar.
Todavia, e para alimentar ainda mais a clarividência, o verbo nadar, na 3º pessoa do presente do indicativo lê-se "nada".
A conclusão que eu retiro, (antes que volte o tédio!) em relação a essa cogitação, é, na verdade,simples e sintética: 4 letras; 2 "ás"; 1 "d" e 1 "n" de nada!
Por ironia do idioma, é na língua portuguesa que o "nada" efectivamente existe como realidade física e operação mental. Nomeadamente no Verão e para quem pratica natação. Mesmo que um nadador nada saiba sobre o "nada", o melhor para ele é saber que nada bem!

Que confusão com uma palavra inócua...que se lixe...não havia mais nada para fazer.

sábado, maio 15, 2010

Imaginação desinspirada



Se muitas vezes a lógica não está no abstracto,
Há abstracto desfeito na fluidez da lógica.
Vejo na tua voz uma folha que se deixa seduzir pelo mar,
Palavras que falas e eu ouço como se o sentido fosse o tacto,
Visão que me prende ao magnetismo do teu olhar.

Ando por onde andam as pessoas que não me vêem,
Deixo ficar a minha voz em sítios desertos de gente.
Passeio prosas em ruas que parecem versos,
Vejo coisas em coisas que outros olham.

Nas cores diversas que me ficam aquém;
Deixo a inspiração absorvê-las em algo que só se sente,
Penso nelas como se elas fossem partes de restos,
Que a imaginação procura em palavras que se escondem.


Desinspiração imaginária é o refugio dos sentidos,
As imagens desfazem-se cá dentro como aqui fora,
Há uma vontade de reinventar pensamentos perdidos,
Mas esta imaginação desinspirada, ainda demora.

sexta-feira, maio 14, 2010

Chão, Mar.



Nesse fundo de mar, há mar,
Neste chão de terra, há gente.
Do mar, vem o desejo de voltar,
Da terra, fica a saudade que se sente.

Sou imigrante nas palavras que escrevo,
Dessas palavras que lêem, sou emigrante...
Madrugada, mãe dos dias que revivo
Frio mudo! só de gestos me faz falante.

Oceano que separa o céu que nos aproxima!
Chão que treme no sossego da natureza,
Agita as almas, esquecem-se problemas,
É o vale da vida, uma rua para baixo, outra para cima.

Porto Formoso, porto do mar, chão de terra formosa.

segunda-feira, maio 10, 2010

Quando a grandeza de um clube se confunde com a de um país !


Por menos de 24 horas o Benfica não se sagrou campeão nacional no dia em que comemoro 30 anos de existência. O Sport Lisboa e Benfica "só" tem mais 2 títulos de campeão que a minha idade, o que não deixa de ser relevante.
Ser benfiquista faz parte da minha forma de ser pessoa!
Numa só voz : O CAMPEÃO VOLTOU!

terça-feira, maio 04, 2010

As minhas mães ou os meus pais!...?

Cada vez mais, mais gosto das palavras que me fazem falar português.
Entre o latim e o grego, há uma mescla de vocábulos que moldam a língua portuguesa. A semântica muitas vezes diverge quando para uma mesma palavra a sua etimologia é diferente.
A palavra Homossexualidade, por exemplo, nada tem de parecido com homo sapiens se não repararmos no termo Homo, em ambas.
Ser homossexual é ser igual no grego e ter sexo no latim. Se o étimo dessa palavra tivesse origem, somente, no latim, significaria que um homem sexual ou pessoa sexual podia ser sintetizada num só vocábulo: homossexual.
No entanto, para se ser considerado homossexual basta (simplesmente) sentir toda a metafísica do amor, por uma pessoa que, por coincidência, tem o mesmo órgão genital. É bom lembrar que amor não precisa de órgãos genitais para poder penetrar ou ser penetrado nas ou pelas emoções de um ser humano.
Para os casais homossexualmente maternos a discriminação lexical vai permanecer no cimo do púlpito, pois, se observarmos, no caso dos casais homossexualmente paternos, o filho ( biologicamente só de um), pode falar, que os seus pais são os melhores pais do mundo, tal como os filhos dos casais sexualmente heteros. O que não pode acontecer com um filho de "duas" mães. Deste modo, para quem seja ou venha a ser filho de "dois" pais, tem na língua portuguesa uma simbólica protecção discriminatória.
Cada vez mais, mais gosto das palavras que me fazem falar português.