Páginas

terça-feira, junho 29, 2010

Se eu nascesse hoje...

O presente não é mais nem menos do que um futuro que não se tem e um passado que já se teve, é o querer progredir nas incertezas das mudanças, recordando a inevitável certeza do que fomos no tempo em que ao mesmo tempo não podíamos ser o que na realidade imediata queríamos...a vida tem tanto de muito como tanto de pouco. O pouco da vida será esperar que ela nos faça; o muito dela, será fazê-la...

Sem querer

A distância que me separa dos espaços que eu nao ocupo é percorrida pela abstração da minha visão. Nesta distância, outras coisas surgem e eu não me distraio...a essas coisas chamo de sensações,devaneios e pensamentos. Ambos juntos não conseguem aumentar a distância que me faz manter perto do sitio que eu quero estar. Entre as milhões de sinapses, que fazem viver o meu cérebro, e o exercicio biológico dos meus olhos, está distância que separa todo o espaço que eu quero ocupar. A Felicidade e a Tristeza são dois espaços que a minha visão percorre, sabendo que o melhor para mim continua a ser a distância que os separa.

sexta-feira, junho 25, 2010

O meu amigo.

Na diferença entre a vida e a morte...
Há momentos!
A vida tem muitos.
Na morte só há um!


Na tua idade encontrei a minha
Nas tuas dores escondi a minha tristeza
Na cor dos meus olhos ia ao fundo dos teus
No teu quarto, muitas vezes a nossa casinha
Homem velho numa jovial nobreza


Conheci-te no mesmo dia em que me recebeste
Desde aí, fui idoso na pele tua que eu não tinha
Fomos sendo o tempo de uma vida que já não vinha
Era eu o movimento da tua voz
Eras tu, o silêncio que me deixava contigo a sós.


Momentos puros de vida no vácuo da morte
Chamam sentimentos que as lágrimas ouvem
São lembranças intimas num único recorte
São imagens que agora, só a mim me pertencem.

sábado, junho 19, 2010

Desfraldar

Vêm os ventos sem avisar a rosa!
Por cima deles, corre um tecto de nunvens,
O azul do céu está na memória do dia anterior,
Há um prenúncio de chuva que tarda,
Na tarde onde as horas lembram o que o tempo tem de pior.

Quando o tamanho das fraldas não têm idade,
Há uma parte do corpo que se esconde na inocência,
De uma criança à procura de identidade,
Ou de um velho, que para viver precisa de paciência.

E o vento empurra o ar com força!
A bandeira segura-se à verticalidade;
E vai dançando a dança que nunca cança...

Bandeira desfraldada como um bébé já sem fralda.
Fazem das palavras, uma procura, demorada, pela curiosidade,
Que termina, com a última rima encontrada.

sexta-feira, junho 18, 2010

De ti, Pedro!

Não vou deixar de pensar no Pedro
Ao pensar nele, sei que ele existe
Todos os dias sem querer o futuro
Penso em ti, e sei que nunca mo pediste


Sei que a realidade, sem ti, perde verdade
Sei que não há forma de voltar a ver-te
Sei que há um mundo de saudade
De ti, de ser impossível esquecer-te


Não quero palavras para tu leres
Tenho-as guardadas para falar contigo
No silêncio, mesmo sem tu ouvires


Deixaste a tua vida na minha forma de viver
Em pensamentos encontras-te comigo
Na ausência deles, nada mais há para compreender.

terça-feira, junho 15, 2010

Não são sonhos

Areia de pedra desfeita, faz o mar erosão,
Embates amiúde abraçam a água com o rochedo;
No ruído prolongado há o silêncio da solidão,
No fundo um horizonte que guarda um segredo.

Entre nós, o oceano que mede a nossa distância,
É também o que me faz lembrar de ti,
Ao meu lado confrontando vontades e paciência,
Deixo-me levar pela linha que separa a terra do céu.

Não sonho com os meus sonhos, penso neles,
Na realidade, nos sonhos nada é meu,
Vivo neles não para sair daqui,
Dessa vida que tanto precisa deles.

Os sonhos que o significado mente,
Muitas vezes adivinham o que a alma sente,
Como monólogos num teatro sem plateia,
Como pedra desfeita que a erosão faz areia.

segunda-feira, junho 14, 2010

O poeta é vadio

O poeta...
Olha como quem não quer ver
Vê sem a necessidade de olhar
Respira como não existisse ar
Vive a vida sem nela viver
O poeta que desaparece
De quando em vez aparece
Escreve sem pensar
Pensa sem sentir
Sente enquanto escreve
O poeta é vadio
Despercebido apercebe-se...
Que a vida é uma foz sem rio.

sexta-feira, junho 04, 2010

Crescer

Foi nesse jeito que cresci,
Trazendo para mim e por mim,
Interstícios em vácuos indecifráveis.
Foi assim desse jeito que cresci,
Na espreita inconsciente de mim próprio,
Recusando na iminência razões simuladas;
Foi assim que fui crescendo.

No frio que as manhãs ditavam,
Renasceu sempre a mesma ideia;
Quase congelada nos subúrbios da mente,
Recebeu, da luz do dia, a transparência:
A claridade pura de quem crescia...
Perpendicular aos pensamentos que ninguém sente

Sempre a crescer...
Um bocadinho por fora, o resto por dentro.
O que fora congelado agora me emudece,
Como um desfecho escondido na sinopse ,
(Que descobrindo-se, não está na história),
De um ser humano que só quer viver.

Já foram frases, a voz que ainda soa,
Outras vozes só servem de palavras
Sintomáticas, como uma pele lívida,
Encostada à periferia de uma ferida.

Há vezes que cresço à toa,
Às vezes sei que não estou crescendo;
Há momentos que às vezes,
Fazem-me dar por mim desaparecendo.

São somente vezes que sem conta,
Dão-me a conhecer aquilo que ainda não sei,
Partes de alguém que aparece,
Como uma sombra que nem o sol nota,
Que se vai sabendo enquanto cresce,
Nesse mundo rabiscado de sonhos.

terça-feira, junho 01, 2010

Ser criança

Aquela voz ténue de pulmões pequenos,
Chamam a vida de criança,
São corpos por crescer,
Que queremos ver,
Devagar, como se essa idade não tivesse anos.

Ser criança não é não ser adulto,
Ser criança é mais do que ser outra coisa qualquer.
É viver o tempo sem que os dias existem,
É ter no pai as regras e o dever,
Ter uma mãe, para cada sentimento solto.

Cria ânsia só de os ver como eu fora,
Criança num passado onde o futuro não havia,
Há uma porta enorme nesta casa que é o mundo,
Janelas não faltam e também alegria,
Que elas nos oferecem, todos os dias, a qualquer hora.

Entra nas janelas, desta casa, a luz vinda,
Dos seres humanos que nos são tudo,
Nesta casa redonda que gira, nada se finda...
Há, em ser criança, o que em mim nunca se vai embora...

Esperando por mim

A rua estende-se no sentido oposto,
A luz atónita vai iludindo a natureza,
Faz da calçada húmida, algo sem rosto,
Uma imagem desnatura e sem destreza,

O frio crepuscular de uma noite anunciada,
Entranha-se nos poros da pele desprotegida;
Sinto-o como uma sensação inacabada,
Como um pensamento sem fala.

O andar conexo à rigidez da anatomia,
Equilibra todo o suplemento de uma existência,
Que se ignora e suspende- se numa via,
Que se desvanece e se recria.

Esperando, aqui estou, por mim, em silêncio;
No fundo dessa via inanimada,
Imerso na escuridão que traz o tédio,
Quando os dias, por pouco, valem nada.

Tudo passa, até eu me passo,
A relatividade do tempo por vezes incomoda,
Se preciso de tempo, ele esgota-se num traço,
Se for supérfluo, até a realidade desprende-se da vida.

Esperando por mim, enquanto não chego,
Estou numa viagem incompleta,
Não sei quando volto nem sei se fui,
Mas quero esperar por mim,
Abraçar-me, segredar-me o ego,
Esperarei por mim com saudade,
Quando chegar, será o fim.